Monday, August 28, 2006

Segundo Ato

Era manhã. A noite chorará gotas de orvalho por toda a floresta. A relva umedecida molhava os pés do jovem fidalgo.Quase que extasiado pela tranqüila noite de sono, ele admirava o nascer do sol. O gigante de fogo saía de seu esconderijo atrás das montanhas do norte, acompanhado pelos primeiros cantos dos pássaros ao amanhecer.

A cinzas da fogueira, já apagada, exalavam um quase imperceptível risco de fumaça que se perdia com a leve brisa matinal.O jovem recolheu todos os seus pertences do chão, e os colocou sobre seu cavalo, que pastava. Guardou sua espada a bainha, deitada em sua cintura e montou no animal.

Trotando mata adentro, o sol quase a pino o fez lembrar da fome. O dia não estava quente, e sim agradável, pois era primavera. Então o sol é confortador com seus raios.

O rapaz começou a pensar em seu almoço. Somente frutas não iriam satisfazer um homem criado a certos luxos. Resolveu então caçar. Um pequeno animal, pois só havia ele ali para comer. Um coelho, provavelmente. Este seria do tamanho de sua fome. E se não o comesse todo, levaria o resto para saciar-se durante a viagem.

Após muito procurar, encontrou um buraco no chão, ao lado de um tronco. Seus conhecimentos sobre a vida selvagem indicavam que ali era a morada de um animal. Um pequeno animal era óbvio, devido ao tamanho do buraco.Amarando seu cavalo um pouco afastado, para que esse não viesse por acaso atrapalhar sua caçada. Pondo-se oculto entre árvores, ele empunhou seu pequeno arco, e com duas flechas cravadas na terra, esperou pacientemente.O tempo passava, e sua paciência parecia não se esgotar. Até que começou a ouvir o farfalhar de folhas próximo de si. Olhos e ouvidos apurados. Arco em punho. A corda estendida parecia tão tensa quanto sua mente. Ele vislumbrava um belo almoço. Mas a fome parecia querer ser afugentada pela visão da flecha varando o corpo do pequeno animal.

Foi quando ele surgiu. De orelhas longas e eretas, pelo acinzentado, olhos negros, os movimentos graciosos e preciso. O pequeno coelho voltava tranqüilamente para sua toca. Olhando fixamente para o animal, o arqueiro o mirou. Visando acertá-lo no meio do corpo. Largou a corda e disparou. A seta cortou o ar num zunido rápido. Acertando uma flor a poucos centímetros do coelho. Este, assustado, bateu em disparada, para dentro de seu covil.

Não haveria tempo para um segundo disparo. O jovem saiu em corrida atrás do animal, para capturá-lo com as próprias mãos. Escorregando em folhas secas e molhadas que jaziam no chão, ele tombou num gemido muito próximo a toca do animal, ficando cara a cara com o mesmo. O coelho, em toda sua destreza saltou por cima do homem deitado sobre a lama, e adentrou em sua “casa”. Num salto, o homem agora enfurecido por tamanha ousadia do pequeno animal, enfiou o braço até o ombro no buraco. E pela euforia, parecia que só havia parado no ombro, pois não cabia no buraco.

Agora, os instintos guiavam os dois “animais”.Grunhindo, o homem tateava a cova a procura do animal. Foi quando olhou para o tronco ao lado, e viu o pequeno animal peludo o admirando. Seu almoço estava certo. E agora seria mais delicioso do que antes.

Quando foi agarrar o animal, sentiu o braço preso às raízes dentro da toca. Puxando com força, o homem se enfurecia cada vez mais. Até que vencido pelos galhos, admitiu a derrota, e largou o corpo.Ao olhar adiante, virá o coelho, parado. Teve a nítida impressão de estar sendo encarado nos olhos.Não acreditou.Era como se o coelho zombasse dele.Ainda incrédulo, vociferou para o coelho. Este lhe deu as costas, e saiu saltitante, até sumir em meio aos galhos e folhas.

- ... ainda bem que eu gosto de maçãs...