Wednesday, March 14, 2007

XI

Ainda perplexo, ele voltou a caminhar em direção ao acaso. A dor já havia diminuído, mas suas pernas e pés ardiam. O sangue das mãos já havia estancado, mas a dor permanecia.
Cansado e machucado, fome, sede e sono começaram a lhe atordoar os sentidos.

As pálpebras pesavam, assim como o corpo todo. Cada passo era o resultado dum sacrifício. Mas ele não podia parar ali. Não estava disposto a perecer entre aqueles muros sujos.
O medo se fazia apenas internamente, pois suas feições demonstravam apenas tristeza e cansaço.

Ando e andou, como desde que havia atravessado aquele portão.
Mas de forma alguma se sentia arrependido. Estava disposto a vasculhar aquele local, que desde sempre lhe atiçava a curiosidade, assim como um cão provoca um gato.

Os pés arrastavam no chão, abrindo pequenas trilhas entre as folhas secas caídas sobre as pedras largas.
A sensação de vigilância ainda lhe vinha no encalço, mas ele preferiu não olhar para trás.

Foi quando ouviu um estrondo. Virou-se assustado para trás. Mas não havia nada ali. Apenas o mesmo cenário.
Continuou, dessa vez com mais cautela. E mais um estrondo, dessa vez mais alto. E outro. E seguido por mais um. E começou a não parar mais.

Seus olhos se arregalaram, e tentou apurar os ouvidos. O barulho parecia-se com passos. Mas passos gigantes. E se aproximava cada vez mais. Até chegar aos seus olhos.
Eram os muros do jardim que estavam em queda. Tombando um sobre os outros, pedras do topo caiam das muralhas até o solo. Não era possível ver de onde elas viriam, pois a luz das jardineiras não chegava até lá.

Então, as pedras começaram a cair em sua direção. Ele apenas saiu em disparada.
Mancando das duas pernas, ele tentava ignorar a dor. Mas não era tão simples assim.

Os pulmões pesavam mais a cada passo. Mas ele não parou de correr. Dobrando a cada curva que se fazia em seu percurso, ele buscava desesperadamente uma saída.
Seus pés sangravam, enchendo os sapatos de sangue.

Rapidamente, ele olhou para trás, para que pudesse avaliar as condições. Então se pos mais veloz ainda.
Pois as pedras já não caiam mais do topo, aleatoriamente. Agora, colunas inteiras tombavam uma sobre as outras. Os muros se faziam em pedaços, rasgando as trepadeiras durante a queda e apagando as chamas.

Ele correu o mais que pode. Então, o silêncio se fez novamente. Ele percebeu logo e parou. Seus pés precisavam de descanso. Não só seus pés, mas seu corpo todo. Seu corpo e sua mente.

A poeira que as pedras levantaram começou a baixar. Ainda havia fogo, e era possível ver a proporção da destruição causada pelas quedas dos muros.

Sentado no chão, ele observava em silêncio. Apoiado nos braços, o cansaço começou a lhe possuir. Estirou o corpo no chão. Olhando para as estrela, começou a relaxar os músculos e o sono lhe tomou.

Em questão de instantes ele havia adormecido.

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